Reportagem Especial - A força da identidade polonesa na região norte do Rio Grande do Sul
A força da identidade polonesa na região norte do Rio Grande do Sul
Colonizadores imigrantes poloneses chegaram há cerca de 150 anos e transformaram o cenário dos municípios gaúchos com a herança cultural polonesa.
Confere-se o ano da chegada dos primeiros imigrantes em terras gaúchas, de registros e documentos que, ao longo dos anos, foram descobertos em pesquisas. É indiscutível que, quando falamos de história, a pesquisa do passado é uma vírgula e nunca um ponto final, pois as descobertas daquilo que hoje desconhecemos modificam cenários conforme novas revelações.
Diante deste contexto emblemático de descobrir o passado e suas raízes, a comunidade polonesa no Rio Grande do Sul comemora, neste ano, os 150 anos da imigração polonesa no estado.
A região do Alto Uruguai, situada ao norte do estado, recebeu grande número de imigrantes poloneses durante o período de colonização, onde muitos, ao chegarem à região da Serra, chamada de “terras velhas”, não se adaptaram às características montanhosas, sendo uma dificuldade para o cultivo de alimentos e criação de animais. Assim, os poloneses fizeram a saga de atravessar o estado até chegarem às “terras novas”.
A nova “grande colônia Erechim”, o que hoje constitui toda a região do Alto Uruguai, foi uma das últimas regiões colonizadas e exploradas pelo Estado do Rio Grande do Sul, e uma nova experiência: a mistura de povos e raças.
Na nova colônia, estabeleceram-se diversos imigrantes vindos da Polônia, Itália, Alemanha e Rússia, além de imigrantes de outros países em menor quantidade. Estima-se que pessoas de mais de 24 etnias passaram pela colônia.
Com o suor do trabalho desbravador e lágrimas de saudade de sua pátria, os poloneses formaram mais que uma grande força étnica que persiste até hoje; nasceram municípios prósperos que carregam a identidade e o legado dos imigrantes poloneses nos dias atuais.
Considerada a Capital Polonesa dos Brasileiros, o município de Áurea está localizado na região do Alto Uruguai, onde, no período de colonização, grande leva de imigrantes poloneses se estabeleceu nestas terras. Áurea possui, em sua população, aproximadamente mais de 94 por cento dos moradores com descendência polonesa.
Neste pacato município, com pouco mais de 3 mil moradores, seu povo mantém com orgulho os costumes, as comidas típicas e a língua polonesa, que atualmente faz parte do currículo escolar municipal.
A praça “Papa João Paulo II” e o hospital local, homenageiam o religioso nascido na Polônia, além da Igreja Matriz Nossa Senhora do Monte Claro ou Nossa Senhora de Częstochowa (em polonês: Matka Boska). A Santa é consagrada padroeira da Polônia.
O Grupo Folclórico Polonês Auresovia, com 95 anos de fundação, difunde a cultura polonesa através da dança, apresentando-se não somente no Brasil; o grupo já esteve em diversos países da América Latina e, recentemente, em 2024 na Polônia.
A Biblioteca São Felinski (Zygmunt Szczęsny Feliński) busca preservar a cultura, a história, a arte e a fé milenar do povo polonês trazido por seus imigrantes.
Áurea busca preservar sua história e dos imigrantes colonizadores, e conta com o Museu Municipal João Modtkowski e a Casa do Imigrante Poplawski Samojeden, uma casa polonesa que resgata a história, cultura e religiosidade do povo polonês da localidade.
A Braspol — que está construindo um grande complexo cultural que irá abrigar a Braspol e a Casa da Cultura - Instituto Memorial Polonês São Zygmunt Felinski, em parceria com o Ministério de Relações Exteriores do Governo da Polônia.
A Festa da Czarnina — uma das maiores e mais tradicionais festas da etnia polonesa do estado — está em sua 25ª edição e, a cada ano, a festa se torna ainda maior, servindo comida típica como a sopa da Czarnina, pierogi frito e cozido, saladas típicas, carne suína e uma variedade de doces poloneses.
Caminhos Poloneses Áurea conta com um projeto de turismo rural chamado ‘‘Caminhos Poloneses’’, que convida visitantes a conhecerem a cultura polonesa através de roteiros que exploram propriedades rurais
de descendentes de imigrantes. Os turistas vivenciam costumes, experimentam comidas típicas como pierogi e czarnina, participam de oficinas de artesanato (Wycinanki) e desfrutam de música e dança.
Os roteiros incluem atividades como o “Batizado das Polacas” no Bosque Monjolo, a oficina de culinária com a “Babka” (um tipo de pão) e o tradicional brinde com cachaça durante a “Ognisko” (fogueira).
O turismo rural também realiza o evento do “casamento típico polonês”, uma festa que resgata as tradições polonesas, com cerimônias que começam com um café da manhã, música, danças e comidas típicas, como carnes assadas em espetos de pau. Há um cortejo da noiva que segue para o casamento em uma carroça. Durante a festa, realiza-se momentos como o “dobre pan” (arrecadação de dinheiro para os noivos) e o corte do bolo.
Pousada da Mamucha
Um local aconchegante e rústico para se hospedar em Áurea, desfrutando do melhor da culinária polonesa e gaúcha, além de doces e sobremesas. A pousada da Mamucha recebe turistas e realiza eventos, sendo uma opção para conhecer mais a ‘‘Capital Polonesa dos Brasileiros’’.
O restaurante “Dois Irmãos Gastrobar” oferece jantares e realiza eventos típicos da etnia polonesa com apresentações de grupos folclóricos, servindo o tradicional pierogi, a czarnina e um bom churrasco na brasa, sendo uma opção regional para os apreciadores da culinária polonesa.
Em Erechim, cidade-polo da região norte do estado, a cultura polonesa tem se destacado ao longo dos anos.
A Sociedade Nicolau Copérnico foi fundada em Erechim em 12 de abril de 1931, por famílias polonesas com o objetivo de organizar eventos culturais e sociais e preservar a cultura étnica, incluindo a realização de festas, almoços, jantares e aulas de língua.
A Sociedade passou a chamar-se Sociedade Instrutiva e Recreativa Rui Barbosa por conta da implantação do Nacionalismo, e em homenagem ao chamado “Águia de Haia”, o brasileiro Rui Barbosa.
Em 2025, a entidade se reformula e passa a se chamar “Sociedade Polônica Rui Barbosa”. Sua sede abriga o Centro de Língua e Cultura Polonesa Prof. Geraldo Augusto Gorski (CLCP), que oferece aulas de polonês com professor nativo, o Grupo Folclórico Polonês de Erechim JUPEM; o Grupo de Canto Stare i Wesoły Wiarusy (“Velhos e Alegres Batalhadores”); e o Grupo da Melhor Idade Rui Barbosa, que reúne senhoras e senhores semanalmente para a realização de atividades e momentos de convivência.
Em 2026, a Sociedade Polônica Rui Barbosa completará 95 anos de existência.
O Grupo Folclórico Polonês de Erechim – JUPEM
Foi fundado pelos religiosos Padre Walenty Nowacki, um ex-combatente da 2ª Guerra Mundial, que foi padre capelão da Força Aérea Polonesa, e Irmã Wanda Szymla, religiosa polonesa que morou no Brasil.
Há 57 anos, o grupo mantém a cultura polonesa através do folclore, da dança e do canto. O JUPEM encanta a todos por onde se apresenta e já esteve em diversos países como Chile, Peru, Argentina, Itália e Polônia. O grupo conta com danças de coreógrafos poloneses que, a cada tempo, são contratados para trabalhar com o JUPEM no Brasil, além dos diversos trajes, todos originais da Polônia.
Getúlio Vargas, segundo maior município da região, com mais de 16 mil habitantes, tem preservado suas raízes e a cultura polonesa através da Braspol e da fé e religiosidade: a devoção ao Cônego Stanislaw Kostka Olejnik, chamado carinhosamente de “Padre Polaco”. Sobrevivente da Segunda Guerra Mundial, Olejnik chegou ao Brasil em 1952 e serviu ao sacerdócio nos municípios de Barão de Cotegipe, onde aprendeu a língua portuguesa com o cônego Stanislaw Pollon, e em Carlos Gomes, de 1954 a 1959, até chegar a Getúlio Vargas no ano de 1959, município onde viveu até a sua morte, em 1987.
Padre Olejnik é lembrado pelos moradores com muito carinho, pelo trabalho sacerdotal, pelo exercício da fé e da caridade, além da bondade e do serviço social junto aos mais pobres e humildes. Ele distribuía pão e mantimentos comprados com seu próprio recurso para famílias que mais necessitavam de auxílio alimentar e espiritual.
A comunidade de Getúlio Vargas possui uma Associação dos Devotos do Cônego Olejnik, que busca preservar sua história e legado de forma voluntária.
No cemitério municipal de Getúlio Vargas está o Mausoléu do Cônego Olejnik. Construído pela comunidade, é um local sagrado onde devotos e fiéis fazem pedidos e intercedem ao padre por auxílio espiritual, curas e agradecimentos de bênçãos alcançadas. A Associação busca a canonização do Padre Olejnik.
Em frente à Igreja Matriz Imaculada Conceição, foi erguida uma estátua de Cônego Olejnik em sua homenagem e devoção da comunidade.
A região do Alto Uruguai possui outros municípios como Carlos Gomes, Centenário, Barão de Cotegipe, Severiano de Almeida, entre outros, que realizam jantares típicos e mantém a difusão da etnia através da Braspol e grupos étnicos.
Por Adriel Ferreira
*Jornalista - MT0018482/RS; Graduado em Marketing - Uri Erechim; Técnico Radialista Locutor - Senac-RS; Pesquisador e Produtor Cultural; Assessor de Cultura - Prefeitura de Erechim
Fotos: Divulgação e redes sociais.














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